sábado, 2 de fevereiro de 2013

Rebobine Depois de Ouvir: Clara Crocodilo (Arrigo Barnabé - 1980)


Gravado no final da década de 70 e lançado no início da década seguinte, o independente Clara Crocodilo de Arrigo Barnabé revolucionou não só o movimento cultural da época, como a música "popular" brasileira de maneira geral. Poucas obras musicais são parecidas com este disco.
Arrigo Barnabé

Sob forte influência de histórias em quadrinhos, as letras de Arrigo - sempre acompanhadas dos arranjos característicos do músico e sua banda - são diretas e deixam claro o que querem dizer. Não há figuras de linguagem ou mensagens nas entrelinhas. As músicas se completam e, de certa forma, acabam contando uma história com um final apoteótico e trágico.

A banda, bem como a quinta faixa do disco, carrega o nome Sabor de Veneno e foi a vencedora do Festival Universitário da MPB em 1979, organizado pela TV Cultura, interpretando aquela que viria a ser a terceira faixa do disco lançado no ano seguinte; Diversões Eletrônicas.


Segundo a própria Regina Porto, parceira de Arrigo em algumas das composições, a música que faziam era mesmo estranha, por isso quem ouvia ou gostava muito ou não gostava. Prova disso são as vaias e aplausos que se misturam durante a execução das músicas no vídeo acima.

Itamar Assumpção
Apesar das letras serem simples, é possível notar um certo lirismo irônico presente em quase todas as músicas. Office-Boy, por exemplo, satiriza o tédio adolescente suburbano e a gana de dinheiro e reconhecimento por parte das poderosas empresas multinacionais.

Os metais frenéticos junto dos coros dissonantes regidos por Arrigo, causam estranheza. Experimentações que concederam ao álbum o título de precursor da vanguarda paulista; movimento cultural que valorizava as produções independentes devido à recorrente falta de interesse por parte das grandes gravadoras nos materiais enviados pelos artistas alternativos da época.

Com o grupo bem numeroso, mais de dez integrantes são creditados em algumas das faixas, incluindo músicos e vocalistas. Dentre eles, dois artistas que conquistaram reconhecimento em suas carreias solo na mesma época; o cantor e instrumentista Itamar Assumpção e a cantora Tetê Espíndola. O primeiro foi um dos responsáveis pelos arranjos da terceira e da sexta faixa do disco, já a cantora fez participações especiais em alguns dos coros.


O disco Clara Crocodilo de Arrigo Barnabé e a banda Sabor de Veneno é vanguardista, incomum, intenso e sem sombra de dúvidas causa certo desconforto em quem ouve pela primeira vez. Talvez por isso seja assim tão genial.

Cotação10.0

sábado, 12 de janeiro de 2013

Filha do Mal (The Devil Inside - 2012)


A fórmula dos pseudo-documentários já foi usada várias vezes no cinema mundial. Rendendo obras incríveis como o Zelig de Woody Allen, divertidas como Borat e Brüno, ambas roteirizadas por Sacha Baron Cohen, ou... Bom, ou o filme em questão; Filha do Mal.

É bem provável que o sub-gênero de terror nos documentários falsos tenha se tornado conhecido pelo grande público em A Bruxa de Blair. Tempos depois, o diretor estreante Oren Peli nos traz o independente Atividade Paranormal, que acabou tendo algumas sequências desastrosas ao longo dos anos. Mas nenhum destes se compara, em todos os sentidos, ao Filha do Mal, de William Brent Bell.

Em certos momentos parece ficar clara a vontade do diretor de copiar outro filme sobre possessões lançado no ano anterior; O Ritual. Além de ter escolhido uma atriz brasileira para o papel principal (bem como no filme de 2011), o tal "curso para padres exorcistas" e a ida ao Vaticano também são retratados. E é claro, como não poderia deixar de ser, o filme é baseado em fatos reais, afinal isso é pré-requisito para quase todos os filmes de exorcismo.

O roteiro acompanha os passos de Isabella Rossi, filha de uma das pacientes de um hospital psiquiátrico em Roma. Sua mãe foi condenada após confessar o assassinato de três membros da Igreja no que teria sido uma sessão de exorcismo. Apesar de declarada louca, alguns dos exorcistas do Vaticano não acreditam que a mulher sofra de distúrbios mentais, mas sim que está possuída - não por um - mas por quatro demônios.

Não adianta. Mesmo com tantos fatores que poderiam contribuir para um filme consideravelmente bom (apesar de ligeiramente clichê), a atuação da protagonista não é o suficiente e acaba não convencendo, o filme parece não engrenar nunca, e quando finalmente chega ao clímax, um final aberto deixa tudo sem conclusão, assim como o suposto caso na vida real.

Finais abertos - quando feitos da maneira certa - são realmente bons, mas finais escancarados são inaceitáveis. É quase como assumir que tiveram preguiça de dar um desfecho para aquilo tudo.

Sustos previsíveis, final escancarado e atuações não tão boas assim. Filha do Mal usa uma fórmula bastante manjada de fazer cinema para atrair alguns desavisados a assistirem ao filme.

Cotação: 5.0